Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Cibercultura e Cultura de Convergência


A ideia latente no pensamento de André Lemos referente ao conceito de cibercultura, em muito se cruzam com a área de investigação e dissertação levada a cabo por Henry Jenkins. Ambas as aproximações gravitam em torno de fenómenos que caracterizam a sociedade atual e a sua relação/aproveitamento da tecnologia de consumo.

Lemos refere-se à socialidade (o ato de ser social) atual, como um produto de uma multiplicidade heterogénea de experiência quotidianas encapsuladas em fachadas que envolvem o indivíduo. Este, ao relacionar-se com o exterior, fá-lo desempenhando papéis de grande foco na aparência. O culto da personalidade, do seguimento de modas e da veneração de ídolos de carne e osso assim como de marcas, produtos ou histórias; são exemplos concretos daquilo que Jenkins designa como cultura de fãs.

É então nesta aparente superficialidade e de uma elevação da importância do momento presente em detrimento do momento futuro que se recupera um conceito há muito perdido por entre as várias gerações que culminaram na sociedade moderna: o tribalismo. E comparar uma tribo a uma agremiação de fãs (seja de que tema for) faz todo o sentido. Reunidos sob um determinado ideal, simples gosto pessoal ou tendência comportamental, os constituintes destas tribos servem-se das plataformas de comunicação digitais para se emanciparem.

As bases para este fenómeno nascem a partir da própria noção de cultura popular. Esta revela-se fruto do advento da democratização da informação com os massmedia, que com eles abriram portas a capacidade de mover multidões em direção aos recintos de espetáculo e a consumirem e seguirem a vida e o trabalho de outras figuras (então ditas públicas) com as quais cada individualidade se identifica. Contudo, a convergência desta postura social com a tecnologia cibernética, resultou nesse conceito de cibercultura, onde a intervenção e participação pública na construção dessa mesma cultura é uma realidade permanente (a dita cultura participativa enunciada por Jenkins).

É fácil perceber que esta questão denominada ‘tribo’ não foi introduzida por fatores institucionais nem orgânicos. Surgiu como uma necessidade de cada um se afirmar e de se nivelar perante um mundo cada vez mais competitivo no que concerne à captação de atenção por parte de outros. A possibilidade de ser importante (ou o parecer importante) aos olhos de terceiros, passou a fazer parte do quotidiano de qualquer personalidade anónima. Contornando a pressão de se coadjuvar com princípios morais ou fundamentais, o indivíduo passa a projetar o seu ser (embora refratado pela máscara que personifica o papel que desempenha) sob um pressuposto estético ou de aparência (como já referido anteriormente). Este fator é ampliado várias vezes se aplicado ao contexto do próprio ciberespaço e a sua permissibilidade do anónimo e permanente acesso à informação e a ferramentas de comunicação.

Verificamos aqui mais uma clara resposta da natureza humana a um dos principais flagelos da tecnologia apontados por Heidegger. A cibercultura, desdobrada nos três conceitos básicos da cultura de convergência apontados por Jenkins (a cultura participativa, a convergência mediática e a inteligência coletiva) é um claro exemplo de emancipação contra a casualidade restritiva e encapsuladora da tecnologia que inclusive sugeria um progressivo gelar das relações interpessoais. Através da cibernética, a sociedade fez aproximar os seus constituintes, conferindo-lhes o poder de intervir no rumo cultural da civilização que os rodeia e agregando-os por outros motivos que não a língua ou fronteiras políticas, mas pela sincronização das vontades e da forma de uso do livre arbítrio.

Referências:
JENKINS, Henry. Convergence Culture. Where old and new media collide. New 
York University Press, 2006.
LEMOS, André, Ciber-socialidade: tecnologia e vida social na cultura contemporânea, Logos Ano 4 Nº6, 1º Semestre, 1997, pp15-19

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