Entende-se por transmédia como o resultado de um conjunto de
obras culturais dispostas por vários tipos de média diferentes, ligadas por uma
linha condutora ou um universo que as contextualiza, fundamenta e relaciona. Ao
mesmo tempo que a adoção de uma incursão transmediática em torno de uma
narrativa constitui numa peça fundamental na criação de comunidade seguidora
(os designados fãs); apresenta-se como uma ferramenta importante na
rentabilização de investimentos de produção. Funcionando como centelha, uma
determinada obra original, introduzida num determinado meio (livro, filme ou
videojogo, por exemplo), ao suscitar um generalizado interesse público, transforma-se
em filão comercial, passível de ser explorado através de outros média, formatos
e explorando fatias de audiência mais alargadas.
Mais do que a simples noção de sequela ou adaptação
(transcrição) da narrativa para outro meio, o transmédia baseia-se na expansão
do horizonte criado inicialmente. Um dos melhores exemplos deste fenómeno, é Star Wars (“A Guerra das Estrelas”, de
1977), uma saga ficcional de fantasia
cuja revelação se deu nas salas de cinema, e exemplo de narrativa rica cujo
caudal de imaginação não se contém nas duas horas de filme. O espírito
(universo), ao introduzir uma mitologia rica, imaginativa e credível, por força
da transformação de espectadores em seguidores, acaba por transcender o meio de
forma inevitável. Com o tempo, esta transcendência verifica-se ao não só ao
nível da continuidade e canonicidade oficial (elaborado por diversos autores
mas regulados pela entidade detentora dos direitos intelectuais e comerciais da
marca) como se alarga a reinterpretações paralelas e em movimentos alimentados
pela camada de fãs que perpetua e alarga esse mesmo universo.
A narrativa transmédia confere ao universo um nível de
permeabilidade à própria inteligência coletiva. O público conduz a ampliação da
base de conhecimento sobre esse mesmo domínio, não só influenciando as
tendências assumidas pela via oficial, como produzindo conteúdo amador baseado
no conceito original. Isto desagua no próprio conceito de viralidade,
verificando-se uma disseminação e partilha de conteúdo relacionado pelas mais
diversas vias de comunicação, potenciando o alargamento da camada de
entusiastas que seguem, estudam e “vivem” esse mesmo universo. E uma maior
adesão significa maior consumo e maiores receitas que serão, inevitavelmente,
canalizadas para o cultivar dessa mesma máquina de cultura ficcional, através
de produtos como brinquedos e merchandising, eventos e convenções, produções
televisivas, livros com histórias
complementares ou videojogos que abordam a narrativa de uma outra forma, mas
sem desviar daquilo que prendeu inicialmente o fã: o universo em que a
narrativa original se enquadrava.
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