No seu artigo, JVS começa por invocar o conceito explorado por Heidegger relativamente ao esquecimento do Ser como efeito da modernidade, e da sua crítica à visão do mundo como se este fosse um "estaleiro" de construção ou um aglomerado de riquezas que aguardam a exploração do Homem. Para Heidegger, e segundo JVS, a "essência da tecnologia moderna deve ser percebida como um processo de desocultação da natureza", e com isto introduz a distinção que o filósofo alemão faz relativamente ao período anterior e posterior à Revolução Industrial (elaborado por mim num outro tópico anterior).
Adicionalmente, JVS faz referência à tendência do tipo de objeto produzido pós-modernização, em detrimento aos objetos produzidos até então. Com a mecanização e a reprodução em massa de instrumentos e materiais, o valor atribuído a cada objeto em particular só pode diminuir. Com a produção em série, liberta-se do objeto o caráter de unicidade e atribui-se o rótulo de espécimen ou reprodução. Com isto, o autor conclúi que um artefacto qualquer deixa de ter o seu valor não tanto pelo que é (ou como foi feito) mas pelo uso que se lhe possa dar.
Desta forma, surge o conceito de Ge-stell, onde quem ordena o desocultamento é a própria "dimensão da tecnologia moderna" e não o Homem, tornando este último num recurso igual aos recursos que a tecnologia explora da natureza. O modo moderno de desenvolvimento tecnológico interfere assim na forma como o ser humano procura e desoculta a verdade, tendendo para o desaparecimento desse mesmo desvelamento.
Esta formatação do pensamento, a mecanização da causa-efeito e esta frieza de perspetiva imposta pelo ritmo do desencobrimento sistematizado, é algo que é posteriormente explorado por Marshall McLuhan e analisado no contexto dos mass-media e da forma como a informação é transmitida.
Mais na Parte II
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Referências
HEIDEGGER, M. (2002), "Ensaios e Conferências" (tradução de LEÃO, Emmanuel Carneiro, FOGEL, Gilvan, SCHUBACK, Marcia Sá Cavalcante), Editora Vozes, Petrópolis, p.11-38
SÁ, José Carlos Vasconcelos (2001), "A Crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan", Revista Interacções Nº1, ISMT
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