Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

sábado, 10 de novembro de 2012

Ficha de Leitura: A Crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan - Parte I

A mediação e a formação de imagens por uma entidade terceira sempre existiu. Contadores, trovadores, mensageiros, historiadores. Com eles, uma versão dos acontecimentos era transmitido para receptores de alguma mensagem ou para aqueles que não presenciaram determinado evento. Mas não obstante do eventual ruído, deturpação, omissão que a existência de um canal humano de transmissão de informação possa comportar, segundo José Carlos Vasconcelos e Sá (doravante designado por JVS), a mediação torna-se mais problemática a partir do momento (...) em que passa a ser suportada por tecnologia" (SÁ, 2001).

No seu artigo, JVS começa por invocar o conceito explorado por Heidegger relativamente ao esquecimento do Ser como efeito da modernidade, e da sua crítica à visão do mundo como se este fosse um "estaleiro" de construção ou um aglomerado de riquezas que aguardam a exploração do Homem. Para Heidegger, e segundo JVS, a "essência da tecnologia moderna deve ser percebida como um processo de desocultação da natureza", e com isto introduz a distinção que o filósofo alemão faz relativamente ao período anterior e posterior à Revolução Industrial (elaborado por mim num outro tópico anterior).

Adicionalmente, JVS faz referência à tendência do tipo de objeto produzido pós-modernização, em detrimento aos objetos produzidos até então. Com a mecanização e a reprodução em massa de instrumentos e materiais, o valor atribuído a cada objeto em particular só pode diminuir. Com a produção em série, liberta-se do objeto o caráter de unicidade e atribui-se o rótulo de espécimen ou reprodução. Com isto, o autor conclúi que um artefacto qualquer deixa de ter o seu valor não tanto pelo que é (ou como foi feito) mas pelo uso que se lhe possa dar.

Desta forma, surge o conceito de Ge-stell, onde quem ordena o desocultamento é a própria "dimensão da tecnologia moderna" e não o Homem, tornando este último num recurso igual aos recursos que a tecnologia explora da natureza. O modo moderno de desenvolvimento tecnológico interfere assim na forma como o ser humano procura e desoculta a verdade, tendendo para o desaparecimento desse mesmo desvelamento.

Esta formatação do pensamento, a mecanização da causa-efeito e esta frieza de perspetiva imposta pelo ritmo do desencobrimento sistematizado, é algo que é posteriormente explorado por Marshall McLuhan e analisado no contexto dos mass-media e da forma como a informação é transmitida.

Mais na Parte II


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Referências
HEIDEGGER, M. (2002), "Ensaios e Conferências" (tradução de LEÃO, Emmanuel Carneiro, FOGEL, Gilvan, SCHUBACK, Marcia Sá Cavalcante), Editora Vozes, Petrópolis, p.11-38

SÁ, José Carlos Vasconcelos (2001), "A Crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan", Revista Interacções Nº1, ISMT

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