O terceiro e último vetor de caracterização da máquina de
imagens sugerido por Philippe Dubois está diretamente relacionado com o plano material
e o conceito de objeto que se pode atribuir ao conteúdo produzido e reproduzido
por esses mesmos dispositivos.
Uma aproximação inicial ao problema sugere que à medida que
a tecnologia da imagem evolui (e consigo as respetivas máquinas) a tendência
para o imaterial e para a volatilidade aumenta. O autor alerta que esta ideia
deve ser considerada com algum cuidado, sob pena de se tornar demasiado
redutora. Contudo, é com essa base de ideias que formula uma série de reflexões
com incidência em cada um dos exemplos tecnológicos enunciado no ensaio em
causa.
É então feita uma primeira comparação entre o meio artístico
da pintura e a fotografia. A primeira denota um grau superior de materialidade:
a textura da tela, as camadas formadas pelas sucessivas pinceladas e até o
próprio odor dos materiais são características que exploram a sensorialidade do
contemplador a um nível que a fotografia não o faz. Por sua vez, esta assume um
caráter bidimensional, espalmado e normalizado. Mesmo assim, possibilita ser
transportado, segurado e visualizado de forma direta.
O facto da fotografia consistir numa imagem sob a forma de
um objeto físico palpável, contrasta com o próprio filme, cuja imagem se
descola do plano físico, enunciado o conceito de projeção. Esta torna-se assim
impossível de manusear diretamente. Muito embora o fotograma (imagem estática) possa
ser extraído, segurado e colecionado tal como se de uma amostra de fotografia
se tratasse, a imagem dinâmica pertence à volatilidade da projeção em tela,
dependente da existência de uma máquina para ser visualizada. Assim, e segundo
Dubois, esta imaterialidade ocorre a dois níveis: ao nível da impossibilidade
do espetador tocar na película (sendo esta pertencente a uma realidade física
separada); e ao nível da ilusão que o próprio filme induz através da sequência
rápida de imagens estáticas, atribuindo ao filme uma não existência como
objeto.
Enquanto o filme ainda garante alguma materialidade
diretamente observável (o fotograma no filme), a televisão e o vídeo já não
partilham dessa propriedade. A imagem transforma-se em sinal (ou segundo
Dubois, “num mero processo”) apenas passível de ser tornado imagem por
intermédio de um aparelho de recepção. Não obstante de se apoiar em suportes
físicos de armazenamento (as fitas nas bobines e cassetes), a imagem nunca
deixa de assumir o formato de impulso elétrico. Assim, a imagem vídeo “não
existe no espaço, mas apenas no tempo” servindo apenas para ser transmitida.
Com a imagem informática, a desmaterialização atinge o seu
auge sob a forma de realidade virtual. A imagem nem sequer se apresenta como um
sinal: é composta por algarismos, agrupados e reproduzidos sob a forma de um
produto de cálculo. O digital diferencia-se do analógico por exigir sempre uma
interface de transformação – dado que o ser humano existe num ambiente analógico
e não é digital por natureza. Logo, nem a própria ressonância causada por uma
onda de sinal poderá ser sentida pelo leitor direta – apenas como resultado de
uma conversão.
Sem comentários:
Enviar um comentário