Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Máquina e Imaginário: O Artista e o Operário

Um dos pontos mais interessantes (na minha opinião) após ler o texto de Arlindo Machado é o foco que o autor faz relativamente ao papel do artista no motor de evolução tecnológica, industrial e corporativo das sociedades; e como o artista tem dificuldade em afirmar-se contra uma necessidade de caráter funcional nad suas criações e, por consequente, contra o capitalismo via evolução tecnológica.

Machado aponta para o facto de que se um artista deseja manter-se na vanguarda da experimentação assim como subsidiar as suas criações, aumentando as chances de vir a ser reconhecido; tem de se aliar com certos e determinados interesses económicos e servir uma determinada função. Miguel Ângelo pintou o teto da Capela Sistina para o seu cliente, a igreja católica romana, e certamente de acordo com as suas directrizes - não o fez, certamente, com a total liberdade que o seu espírito desejaria [1]. Este sponsoring, permitiu ao pintor o acesso aos materiais e à oportunidade que dificilmente existiria se Miguel Ângelo tivesse renunciado as condições impostas. Nem tão pouco teria acesso ao bloco de mármore que daí surgiu a famosa estátua de David. E isto apenas citando dois exemplos de obras de arte de função religiosa.

Por sua vez, os grandes grupos, sejam eles políticos, económicos ou religiosos; sempre dependeram da existência de artistas para fazer cumprir os seus objetivos. Os artistas apelam às massas de uma forma que um técnico jamais o faz. E esse apelo gera conversão (ou consumo, no caso económico), e a conversão gera dinheiro. As grandes empresas, ao desenvolverem novas tecnologias, recorrem aos artistas para que estes as transformem em algo admirável e digno de emoções por parte do público-alvo. E ao ganharem mais dinheiro, mais facilmente subsidiam mais artistas por lado, e potenciam a investigação e desenvolvimento da técnica pelo outro - criando um ciclo sem fim de descoberta-criação-consumo.

Traçando um exemplo nos dias de hoje podemos afirmar que o realizador de cinema não consegue utilizar a última tecnologia em efeitos especiais, ou utilizar o último modelo de câmara de filmar, ou sequer contratar milhares de figurantes; se não dispuser de verbas por parte dos investidores (estúdios e independentes). E estes investem, pois sabem que o público (aqueles que compram os bilhetes e sorvem todo o universo de consumo gerado em torno de uma determinada manifestação cultural) não se contentam com demonstrações tecnológicas - eles querem ser surpreendidos e trazer os seus sentimentos à flor da pele.

É o negócio das emoções que, por incrível que pareça, é o que faz a tecnologia avançar e o artista inovar e brilhar. Uma vez mais.

Notas
[1] Daí as mensagens subliminares que certos e determinados autores do renascimento introduziam nas suas obras (muitas vezes contra o próprio cliente), como forma rebelde de afirmar a autonomia do seu espírito artístico.

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