O ensaio intitulado “Máquinas de imagem: uma questão de
linha geral”, inserida na obra “Cinema, Vídeo, Godard” de Philippe Dubois
(2004), elabora uma interessante e esquematizada (embora densa e detalhada)
forma de interpretar o papel da máquina como artefacto de produção de imagens,
abarcando a tecnologia desde a projeção ótica na câmara obscura até à síntese
de imagem computadorizada.
A abordagem começa pelo assumir da construção de imagens
como uma atividade sempre ligada e dependente de qualquer tecnologia, seja esta
sob a forma de um instrumento, uma técnica, ou de um saber. E a partir daí, e
de forma geral, o texto é conduzido no sentido da colocação em causa de um
eventual processo contínuo de desumanização do processo artístico, motivado pela
invasão de uma dimensão “maquínica”. Esta, em diferentes dosagens consoante a
tecnologia em causa, revela-se associada aos fenómenos de expressão e
comunicação pelo e para o Homem, e em que medida este está a ser subvertido
pela sua própria criação.
A forma como Dubois levanta as questões começa geralmente com
uma caracterização do espírito profético relativamente às então novas
tecnologias (citando uma variedade de autores detratores/apoiantes dessa faceta
progressista). Culminando posteriormente em rebate/concordância devidamente
apoiada em exemplos e analogias intertemporais, reforçando o aspeto cíclico
(com denominadores comuns) do impacto do fenómeno da introdução de novas tecnologias
nos processos de comunicação e manifestação artística.
O autor começa por identificar as quatro tecnologias
modernas de maior influência no âmbito da produção de imagens no contexto da
finalidade artística/expressiva e no contexto funcional na comunicação de
massas. São elas: a fotografia, o cinema, a televisão e a informática. Todas
elas caracterizadas por uma ou mais “máquinas semióticas”, tais como, e
respetivamente, a câmara fotográfica; a câmara de filmar e o projetor de
cinema; o televisor e o canal de transmissão; e por fim, o computador.
Sobre estes quatro objetos de estudo, Dubois contextualiza o
seu olhar por intermédio de três vetores bipolares de análise bem definidos: o
do real (realismo), o da analogia (mimetismo) e do da matéria (materialismo).
Estes servirão para fazer localizar o caráter da intervenção da máquina no processo
de construção de sentido, assim como do produto que dele surge.
N.A.: Estes três aspetos serão desenvolvidos na sequência das próximas
entradas no blog.
Referências:
DUBOIS, Philippe, 2004, "Cinema, Vídeo, Godard", Cosac Naify, São Paulo
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