O segundo eixo enunciado por Philippe Dubois, no seguimento
da caracterização das máquinas de imagem, refunda-se na dicotomia
“semelhança-dessemelhança”, nutrindo atenção sobre o grau de
fidelidade/realismo no processo de produção de imagem por parte das máquinas
semióticas. Esta característica, denominada ‘mímese’, dividiu já correntes
artísticas, opondo a perfeição e obsessão na reprodução fiel do real por parte
do humanismo e do naturalismo (por sua vez de inspiração classicista); contra a
subjetividade, o errático, e o espontâneo de movimentos como o surrealismo, o
cubismo e o expressionismo.
Mas quando se fala em evolução tecnológica como ventre de
nascimento de novos meios de produção artística, especialmente no contexto da
era moderna e pós-moderna, Philipe Dubois facilmente deduz que é fácil
pressupor que a dita evolução traduz-se diretamente num inevitável aumento de
realismo e numa relegação da intervenção humana para segundo plano.
Efetivamente, com o aumentar da perfeição do processo fotográfico, a reunião do
áudio com a imagem e a possibilidade transmitir vídeo captado em direto, tudo
leva a crer que o sentido é o da reprodução indistinguível do real por parte
das máquinas. Um espelho perfeito. Contudo, não é isso que acontece.
Segundo Dubois, “a
cada momento da história dos dispositivos, a tensão dialética entre semelhança
e dessemelhança reaparece” motivado pela própria estética e a irreverência e
tenacidade humana em imprimir a sua visão e não qualquer visão. Assim, o
processo de captura (ou de rastreio e assimilação da realidade sob a forma de
imagem) é inevitavelmente contaminado pelo génio do artista, transportando
sentido, motivo e intenção ao próprio processo, humanizando-o e incorporando a
verdade escondida na verdade aparente.
A título de exemplo, a fotografia não consiste apenas no
retrato frio da realidade, mas transporta elementos que embora não estejam
visíveis no enquadramento, estão lá. O realismo transforma-se em realidade, de
constituição mais densa e profunda, e o caráter mimético esvai-se e dá lugar ao
significado – ao índice e ao signo. A foto “nem sempre se contenta em figurar o
tempo congelado do instante”, capturando o invisível e enclausurando dentro si
todo um mundo condensado.
O mesmo se poderá aplicar à imagem em movimento, à imagem
transmitida e à imagem computorizada. As possibilidades de intervenção e
escolha no processo de conceção são ilimitadas e imprevisíveis. E se
simultaneamente a técnica aparenta aproximar-se da realidade, mais depressa se
afasta através da introdução de técnicas produtoras de significado como o
enquadramento, o ponto de vista, a composição, a exposição, a câmara lenta, a
reversão temporal, o ruído e a aleatoriedade induzida. E assim, o autor conclui
que a tecnologia não limita a forma como o artista procurará representar a
realidade, relegando na estética como componente essencial e nunca a técnica.
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