Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O espelhar da realidade e o desprendimento do processo humano na produção de imagem por via tecnológica


O segundo eixo enunciado por Philippe Dubois, no seguimento da caracterização das máquinas de imagem, refunda-se na dicotomia “semelhança-dessemelhança”, nutrindo atenção sobre o grau de fidelidade/realismo no processo de produção de imagem por parte das máquinas semióticas. Esta característica, denominada ‘mímese’, dividiu já correntes artísticas, opondo a perfeição e obsessão na reprodução fiel do real por parte do humanismo e do naturalismo (por sua vez de inspiração classicista); contra a subjetividade, o errático, e o espontâneo de movimentos como o surrealismo, o cubismo e o expressionismo.

Mas quando se fala em evolução tecnológica como ventre de nascimento de novos meios de produção artística, especialmente no contexto da era moderna e pós-moderna, Philipe Dubois facilmente deduz que é fácil pressupor que a dita evolução traduz-se diretamente num inevitável aumento de realismo e numa relegação da intervenção humana para segundo plano. Efetivamente, com o aumentar da perfeição do processo fotográfico, a reunião do áudio com a imagem e a possibilidade transmitir vídeo captado em direto, tudo leva a crer que o sentido é o da reprodução indistinguível do real por parte das máquinas. Um espelho perfeito. Contudo, não é isso que acontece.

Segundo Dubois,  “a cada momento da história dos dispositivos, a tensão dialética entre semelhança e dessemelhança reaparece” motivado pela própria estética e a irreverência e tenacidade humana em imprimir a sua visão e não qualquer visão. Assim, o processo de captura (ou de rastreio e assimilação da realidade sob a forma de imagem) é inevitavelmente contaminado pelo génio do artista, transportando sentido, motivo e intenção ao próprio processo, humanizando-o e incorporando a verdade escondida na verdade aparente.

A título de exemplo, a fotografia não consiste apenas no retrato frio da realidade, mas transporta elementos que embora não estejam visíveis no enquadramento, estão lá. O realismo transforma-se em realidade, de constituição mais densa e profunda, e o caráter mimético esvai-se e dá lugar ao significado – ao índice e ao signo. A foto “nem sempre se contenta em figurar o tempo congelado do instante”, capturando o invisível e enclausurando dentro si todo um mundo condensado.

O mesmo se poderá aplicar à imagem em movimento, à imagem transmitida e à imagem computorizada. As possibilidades de intervenção e escolha no processo de conceção são ilimitadas e imprevisíveis. E se simultaneamente a técnica aparenta aproximar-se da realidade, mais depressa se afasta através da introdução de técnicas produtoras de significado como o enquadramento, o ponto de vista, a composição, a exposição, a câmara lenta, a reversão temporal, o ruído e a aleatoriedade induzida. E assim, o autor conclui que a tecnologia não limita a forma como o artista procurará representar a realidade, relegando na estética como componente essencial e nunca a técnica.

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