A primeira das três problemáticas centrais que Philippe
Dubois associa às relações perceptíveis entre as várias tecnologias de imagem,
reflete a questão do realismo. Ou seja, da gradativa representação e definição
do local/momento (espaço/tempo) que a realidade da imagem transmite e a sua relação com o local/momento vivido
pelo leitor.
Para o efeito, o autor introduz uma escala de classes que,
associadas às tecnologias que evoca, definem o grau de intromissão cumulativa
da máquina entre o sujeito e o real, por via da imagem, adensando a sua
opacidade de acordo com a evolução tecnológica:
- Ordem 1 – Dependência da realidade: A máquina como aparelho de visionamento ótico/mecânico, modificador do ponto de vista, apreendendo o real e projetando-o de forma efémera no olhos do artista. Exemplo: câmara obscura.
- Ordem 2 – Armazenamento da realidade: É introduzido o registo químico em algum tipo de suporte, constituindo na imagem um caráter definitivo. Por ser independente de uma coexistência para com a realidade, torna-se passível de ser visualizado posteriormente sem recurso ao equipamento que o capturou. Exemplo: uma fotografia revelada.
- Ordem 3 – O tempo e o revisionamento da realidade: Esta camada refere-se à introdução da máquina como exigência para a pós-contemplação da imagem capturada. Exemplo: o projetor de cinema e a inutilidade conferida ao filme perante a inexistência deste tipo de equipamento.
- Ordem 4 – O imediato da realidade à distância: Acumulada com todas as outras, a transmissão funciona como a quarta ordem e a relação entre a imagem de cinema projetada e o espaço em que tal evento ocorre, esfuma-se, dando lugar à possibilidade de propagar uma imagem “ao vivo” para qualquer sítio e qualquer lugar. Por esta via, a máquina de imagem assume definitivamente o seu papel
- Ordem 5 – A realidade virtual: Para além de acumular as outras, a imagem informática incorpora não só a possibilidade de modificar, combinar e refazer os média assimilados e convertidos numa linguagem universal, maleável e transmissível; como introduz a síntese (conceção) de imagem como forma de produção de realidade abstrata, imaterial e paralela à “realidade real”, passível apenas de ser visualizada indiretamente. Exemplo: a imagem gerada por computador.
Passando à frente das questões ligadas aos dispositivos
óticos que precederam a fotografia (ou mais corretamente, o daguerreótipo),
dado que não efetuam o registo da imagem propriamente dita; Dubois começa por
debruçar-se sobre o conceito de “máquinas semióticas” definindo-as como
“intermediários que se vêm inserir entre Homem e o mundo no sistema de
construção simbólica”.
Assumindo e defendendo que o recurso a estas máquinas,
embora em níveis diferentes, para além de produzir imagens, geram afetos,
estimulam a imaginação, e são mais do que máquinas inertes e dotadas de
limitadas opções – formam extensões do intelecto humano, trazendo à superfície
possibilidades nunca outrora imaginadas e redefinindo, de forma incisiva, o
próprio conceito de realidade.
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