Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Máquina e Imaginário: Artista, Autor e Leitor


Partindo do conceito das ‘Máquinas Semióticas’, Vilém Flusser assume-se inicialmente como um dos principais insurgentes contra esta mecanização da arte, relegando o estatuto de artista a mero operador de máquinas – afinal, ele ao não saber mudar a máquina, está limitado ao que esta tem para oferecer, ou seja, um número limitado de opções, balizando a sua própria creatividade. Flusser advogou que o artista se deveria revoltar contra esta descarada automatização, esquivando-se da constrição à repetição permitida pela máquina e imaginando formas de contrariar essas predefinições em prol da sua própria expressão humana. Um dos argumentos que suporta esta posição está relacionada com a própria necessidade que a tecnologia tem de se atualizar de forma permanente, superando as versões anteriores com um maior número de funcionalidades e possibilidades de escolha. No entanto, Arlindo Machado contrapõe com dois pontos contra:

  • Em primeiro lugar, qualquer processo cultural humano está envolvido em limitações, sejam elas físicas, temporais ou até semânticas, por exemplo. São regras que não obstante de estarem presentes, não limitam a criatividade e a espontaneidade do artista. De técnicas simples, o Homem é capaz de erguer maravilhas;
  • Por outro lado, Flusser fala como se fosse possível quantificar e determinar com exatidão todas as possibilidades extraíveis dessas máquinas ou processos técnicos. Apenas em teoria poderemos afirmar que existem tais limites, pois na prática, a intervenção da imaginação faz de imediato dissipar esses limites.


Estas questões levam Arlindo Machado a afirmar que "em toda a cultura técnica há um componente que não pode ser quantificado, muito menos abordado em termos de 'limites': a imaginação dos homens (...)". Segundo estes autores, o processo artístico é contínuo desde que a máquina, a técnica ou o método é imaginado; passando pela utilização e o retirar partido da tecnologia; até terminar a quem delas obtém algum proveito para os mais variados fins, sejam eles artísticos, profissionais ou de índole pessoal e contemplativa. Esta complexa aproximação à autoria de um determinado artefacto, conduz à própria redefinição do papel do artista.

Segundo o autor, o artista não é mais uma entidade estanque e limitada ao engenho de um único homem. O artista serve-se da tecnologia e da arte que ela representa, para produzir a sua própria visão sobre determinada matéria, contudo, o processo não termina aqui.

Machado caracteriza a experiência estética contemporânea como algo que transborda de forma ativa para o lado do leitor – daquele que lê, aprecia e interioriza a obra de arte. A mensagem original do artista, no decorrer da contemplação, ao colidir com o espírito crítico, a experiência e a cultura do leitor, gera uma nova interpretação da obra dificilmente imaginada pelo autor original. Esta conclusão, apenas vem reforçar de que o processo de criação artística por via de um aparelho ou tecnologia de ponta, não está circunscrita às definições da técnica, fazendo-se arte aos olhos de quem se sentir invadido por ela.

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