Serve o presente blog para a coleção de pensamentos, reflexões, análises e resumos dos assuntos figurados no âmbito da avaliação da disciplina de Processos de Comunicação Digital, do doutoramento em Média-Arte Digital, da Universidade Aberta.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Máquina e Imaginário: Avenças e desavenças

“Podemos considerar a relação da arte com a tecnologia como um casamento marcado por períodos de harmonia e de crises conjugais” (...)“Toda arte produzida no coração da tecnologia vive, portanto, um paradoxo e deve não propriamente resolver essa contradição, mas pô-la a trabalhar como um elemento formativo.”
Tal como foi previamente comentado, o conceito clássico de arte é indissociável do conceito clássico de tecnologia. Por exemplo, os elementos da estética como a proporção e a perspetiva alimentam simultaneamente a ciência e a arte de formas distintas mas relacionáveis. O caráter reprodutivo e exato da mimese da arte pode até ser considerado um antecessor do método científico, onde o mundo é detalhadamente interpretado e transferido de forma calculista para a tela, o edifício ou o bloco de mármore.

Mas esta contemplação objetiva da natureza, esta procura pela perfeição da forma e da correta representação do belo, torna-se num problema interior para alguns artistas, cuja vontade é a de se exprimirem fora destes cânones. Este rompimento com a visão racional do mundo dá lugar a uma posição de escape protagonizada pelo próprio artista e pela sua visão individual e subjetiva.
Se então a arte e tecnologia permaneciam casadas, segundo o autor da obra em análise, dá-se neste momento a separação. O romantismo faz assim vincar o eu artístico, constrito, até ao momento, pelo rigor da técnica instituída pelos valores clássicos da arte e reaproveitados pelo renascimento.

Este afastamento perante a técnica, torna-se mais evidente durante e após a revolução industrial. A rigidez das máquinas, a linearidade dos processos, as hierarquias e o controlo, a económica capitalista e o esmagar dos valores sociais; tornaram-se inspiração (pela negativa) da multiplicidade das correntes artísticas modernas.

Mas a reconciliação arte/tecnologia é, entretanto, feita em tempos pós-modernos com a chegada da electrónica. Na obra de Vasconcelos e Sá, é apontada a opinião de McLuhan sobre esta matéria: “McLuhan observava os desenvolvimentos da tecnologia electrónica (...) ao permitirem a fuga à prisão do mundo mecânico das engrenagens e alavancas” [1]. Na semelhança encontrada entre os circuitos elétricos e o próprio corpo humano, McLuhan viu uma clara possibilidade de entendimento e complementaridade entre a razão e a emoção no processo de produção artística.

Referências
 [1] SÁ, José Carlos Vasconcelos (2001), “A crítica da Técnica e da Modernidade em Heidegger e McLuhan”, Revista Interacções #1, ISMT, pp.124-137

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